Peço
desculpa por voltar à questão dos valores (axiologia) em ciência. Tenho-me
defrontado com ela desde o início das leituras nesta UC. Marcado pela
perspectiva marxista na minha formação inicial, órfão dela desde a sua falência
na prática política, interrogo o vazio das opções positivistas que postulam a
neutralidade axiológica da ciência, como já tive ocasião de referir num post
anterior.
Depois de
alguma pesquisa e de leituras complementares, encontrei uma formulação que veio
ao encontro das minhas perplexidades. Permitam-me que cite:
«Contra o ideal empirista da ciência neutra que separa estritamente os factos e os valores, a evolução da filosofia da ciência ao longo do século XX mostra que a racionalidade tecnocientífica não é somente uma racionalidade teórica, mas também prática e submetida, portanto, aos diversos valores que governam as acções dos cientistas. Uma filosofia da actividade científica terá de confrontar-se de novo com o debate sobre a ciência e os valores que fora estritamente posto de lado pelos filósofos positivistas da ciência.» (in: ECHEVERRÍA, Javier, Introdução à metodologia da ciência, a filosofia da ciência no século XX, Coimbra, Livraria Almedina, 2003, p.314-315). Depois, o autor desenvolve esta ideia em dez pontos, à maneira de teses, em que insiste no princípio da «pluralidade axiológica da ciência» (idem, p. 316).
Sinto-me,
pois, mais confortável na abordagem da Ciência e da posição do cientista
perante o seu objecto de estudo. E aceito, agora, sem reservas,
a frase de um grande cientista da História que abre assim o prefácio à primeira edição de uma das obras mais marcantes da historiografia do século XX: «Amei apaixonadamente o Mediterrâneo indubitavelmente porque oriundo do Norte.» (BRAUDEL, Fernand, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico, vol I, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1983.)
a frase de um grande cientista da História que abre assim o prefácio à primeira edição de uma das obras mais marcantes da historiografia do século XX: «Amei apaixonadamente o Mediterrâneo indubitavelmente porque oriundo do Norte.» (BRAUDEL, Fernand, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico, vol I, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1983.)
Concluo,
portanto, que a ciência não se faz no vácuo e que a questão dos
valores é central e abrangente, lidando com problemas como o da
finalidade, dos meios e dos interesses. E que reconhecê-lo é garantir clareza
de processos e de resultados.
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