domingo, 3 de novembro de 2013

CIÊNCIA E PAIXÃO OU A PAIXÃO DA CIÊNCIA



Peço desculpa por voltar à questão dos valores (axiologia) em ciência. Tenho-me defrontado com ela desde o início das leituras nesta UC. Marcado pela perspectiva marxista na minha formação inicial, órfão dela desde a sua falência na prática política, interrogo o vazio das opções positivistas que postulam a neutralidade axiológica da ciência, como já tive ocasião de referir num post anterior. 
Depois de alguma pesquisa e de leituras complementares, encontrei uma formulação que veio ao encontro das minhas perplexidades. Permitam-me que cite:
«Contra o ideal empirista da ciência neutra que separa estritamente os factos e os valores, a evolução da filosofia da ciência ao longo do século XX mostra que a racionalidade tecnocientífica não é somente uma racionalidade teórica, mas também prática e submetida, portanto, aos diversos valores que governam as acções dos cientistas. Uma filosofia da actividade científica terá de confrontar-se de novo com o debate sobre a ciência e os valores que fora estritamente posto de lado pelos filósofos positivistas da ciência.» (in: ECHEVERRÍA, Javier, Introdução à metodologia da ciência, a filosofia da ciência no século XX, Coimbra, Livraria Almedina, 2003, p.314-315). Depois, o autor desenvolve esta ideia em dez pontos, à maneira de teses, em que insiste no princípio da «pluralidade axiológica da ciência» (idem, p. 316).
Sinto-me, pois, mais confortável na abordagem da Ciência e da posição do cientista perante o seu objecto de estudo. E aceito, agora, sem reservas,
a frase de um grande cientista da História que abre assim o prefácio à primeira edição de uma das obras mais marcantes da historiografia do século XX: «Amei apaixonadamente o Mediterrâneo indubitavelmente porque oriundo do Norte.» (BRAUDEL, Fernand, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico, vol I, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1983.)
 Concluo, portanto, que a ciência não se faz no vácuo e que a questão dos valores é central e abrangente, lidando com problemas como o da finalidade, dos meios e dos interesses. E que reconhecê-lo é garantir clareza de processos e de resultados. 



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