sábado, 22 de março de 2014

SOBRE A ARTE



Nestas coisas da arte o maior perigo é o simplismo que se traduz em apressados juízos de valor , cedências ao lugar comum, impressões e imprecisões. Mas no decorrer de leituras que vou fazendo, há anotações necessárias como forma de me interrogar e de lançar pontes para outros que por aqui andem. Não são textos acabados, funcionam como esquissos de desenho em caderno de apontamentos.

Hoje, sobre a arte contemporânea:

A ARTE É COMUNICAÇÃO?

Recordemos o primeiro embate de leituras antigas: «A arte não é necessariamente bela».[1] O pressuposto da beleza inerente à obra de arte era um preconceito que o autor nos convidava a pôr em causa: «A arte não é a expressão plástica de qualquer ideal particular. É a expressão de qualquer ideal que o artista possa realizar em forma plástica.»[2] Esta era a chave. A arte resulta de uma realização, de um fazer. E de um autor que partiu de uma ideia.

Podemos admitir, assim, que autor e acção se conjugam para a concretização de uma obra de arte proposta como algo a ser recebido, evidenciando a infinita potencialidade da realização artística como acto de comunicação em que há um emissor, um receptor e uma mensagem.

Bem se pode objectar que é sobre o último elemento – a mensagem - que se joga hoje o desconforto que nos provoca a arte contemporânea, - e que levou Ortega Y Gasset a distinguir duas classes de homens: «os que a percebem e os que não a percebem»[3]. De facto, para muitos artistas contemporâneos a expressão hedonista das suas concepções e emoções é mais importante do que a sua comunicação em forma de mensagem. Todos nos recordamos da resposta grosseira do cineasta João César Monteiro quando um jornalista o interrogou sobre a mensagem do filme “Branca de Neve”…
Contudo, julgamos que a concepção de obra de arte como acto de comunicação continua a ser  fecunda e operativa.
Será?



[1] READ, Herbert – O significado da arte. Lisboa: Editora Ulisseia, s/d (196-?), p.17.
[2] Op. cit. p.19.
[3] GASSET, Ortega Y – A desumanização da arte. Lisboa: Vega, col. Passagens, 2ª ed, 2000, p. 63.



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