domingo, 7 de setembro de 2014

FIGURAS E ESPAÇOS MARCANTES
DA HISTÓRIA DA ARQUEOLOGIA PRÉ-HISTÓRICA PORTUGUESA
Breve síntese
Joaquim Moedas Duarte

Na impossibilidade de resumir exaustivamente a já longa e rica História da Arqueologia Portuguesa, optei por organizar os meus apontamentos em três capítulos: Figuras, Espaços Arqueológicos e Espaços Institucionais.


FIGURAS (Ressalta uma característica geral: são da área da Geologia)

Carlos Ribeiro: juntamente com Pereira da Costa e Nery Delgado, é uma das figuras marcantes da Segunda Comissão Geológica (1857). Principais trabalhos de prospecção e escavação: 1863, Concheiros de Muge; 1870: tese do Homem Terciário Português, a partir de estratos geológicos da região da Ota (Alenquer), num dos mais fecundos problemas científicos da nossa arqueologia, retomado por Nery Delgado e resolvido no séc. XX por Henri Breuil e Georges Zbyszewski; 1878: povoado pré-histórico de Leceia (Oeiras); catalisador da realização em Lisboa do IX Congresso Internacional de Arq. e Antrop. Pré-Hist, em 1880.

Nery Delgado: Gruta da Casa da Moura (Óbidos,1865) e Gruta da Furninha (Peniche, 1880): é pioneiro nas práticas científicas do uso da quadrícula no espaço escavado, definição de níveis estratigráficos das jazidas e sistematização tipológica dos materiais.

Pereira da Costa: primeiros estudos do Neolítico em Portugal em “Descrição de alguns dolmens ou antas em Portugal” (1868).

Estácio da Veiga: o primeiro arqueólogo profissional em Portugal, deixa uma obra monumental em 4 vols: “Antiguidades Monumentais do Algarve”.

J. Leite de Vasconcelos: 1º Director do Museu Ethnológico Português (1893); promotor de recolha nacional de vestígios do homem antigo em Portugal; fundador da importante revista “O Archeólogo Portuguez”; autor do livro seminal “Religiões da Lusitânia”.

Mendes Correia: dinamizador da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia; novas investigações nos Concheiros de Muge; lança a hipótese da vinda de populações do Norte de África para a P. Ibérica, que estariam na origem do Homo Faber Taganus.

Manuel Heleno: sucessor de L. de Vasconcelos no Museu Ethnológico; estudos do megalitismo português, de que provou a originalidade cultural; estabelecimento da sequência contínua do Paleolítico Superior; revista Ethnos; intenso labor arqueológico.

Abel Viana: colabora intensamente com Octávio da Veiga Ferreira; esforçado e auto-didacta, evidencia-se em múltiplos trabalhos de que se destacam os realizados em Ourique (necrópole de Atalaia e Castro da Srª da Cola).

G. Zbyszewski, (com H. Breuil em 1941 e 42): protagoniza o ressurgimento da Comissão Geológica de Portugal. Dá importante impulso ao estudo do Paleolítico e sua relação com a Geologia do Quaternário. Estudo das Praias Quaternárias da Estremadura portuguesa e terraços fluviais do médio e baixo Tejo.

O. Veiga Ferreira: um dos que mais marcou o séc. XX da arqueologia portuguesa. Notável labor em muitas áreas e épocas, destacam-se: estudos do Paleolítico Inferior e Médio; necrópoles megalíticas das Caldas de Monchique; os tholos do Baixo Alentejo, que explora, permitem-lhe sustentar internacionalmente a teoria da progressão de sul para norte dos prospectores e metalurgistas do cobre e estabelecer a autonomia conceptual da Idade do Cobre; prossegue a exploração dos Concheiros de Muge (de 1952 a 66). Primeiro doutorado num tema da Pré-História com o já clássico “La Culture du Vase Campaniforme au Portugal (Sorbonne, 1965).

Casal alemão Leisner (Vera e Georg): levantamentos geológicos e notáveis estudos do megalitismo português.

Fernando Almeida e Farinha dos Santos: docentes contemporâneos na década de 60 na Fac. Letras de Lisboa, privilegiaram o contacto directo com os sítios e os materiais arqueológicos. O primeiro, sucessor de M. Heleno no Museu de Belém, evidenciou o período visigótico; o segundo, regendo a disciplina inovadora da Pré-História, suscitou seguidores, além da notável investigação da Gruta do Escoural.


ESPAÇOS ARQUEOLÓGICOS

Concheiros de Muge (desde 1863): a mais expressiva manifestação europeia do Mesolítico. Estudados inicialmente por Carlos Ribeiro (1ª obra de carácter científico sobre uma jazida pré-histórica em Portugal); mais tarde, por Mendes Correia (1930) e O. Veiga Ferreira (1952/66); prosseguindo actualmente em trabalhos de datação pelos processos mais actualizados, com Nuno Bicho.

Gruta da Furninha (Peniche): explorada por Nery Delgado com utilização pioneira de procedimentos científicos, já acima referidos.


ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

Museu Ethnológico Português (actual M. Nacional de Arqueologia, Belém): criado em 1893; polo de investigação com o labor de Leite de Vasconcelos e Manuel Heleno.

Serviços Geológicos de Portugal: desde a Segunda Comissão Geológica (1857) notabiliza-se pela recolha de informações e artefactos que abrem caminho a posteriores investigações; 1ª Carta Geológica de Portugal (das 1ªs do mundo); congregadora de uma plêiade de notáveis arqueólogos.

Associação dos Arqueólogos Portugueses (1863): de labor discreto e muitas vezes à margem das correntes mais actualizadas, destacou-se pelo grupo de três notáveis arqueólogos: Joaquim Fontes, Eugénio Jalhay e Afonso do Paço.



Bibliografia:

CARDOSO, J.L. (2007) – Pré-História de Portugal. Lisboa, Universidade Aberta.572 pp.
CARDOSO,J.L. (2001/2002) – Correspondência anotada de Abel Viana a O. da Veiga Ferreira (1947-1964). Estudos Arqueológicos de Oeiras, 10.Oeiras. pp.415-608
CARDOSO, J.L. (2001/2002) – Elogio do Prof. Manuel Farinha dos Santos. Estudos Arqueológicos de Oeiras, 10.Oeiras. pp. 11-37
CASTELO-BRANCO, Fernando (1981) – Arqueologia Portuguesa. Dicionário de História de Portugal. Livraria Figueirinhas, Porto

Torres Vedras, 16 Outubro 2013

Joaquim Moedas Duarte

Nenhum comentário:

Postar um comentário