segunda-feira, 15 de maio de 2017

META À VISTA E CONVITE






Foi em Setembro de 2013 que iniciei a caminhada deste Mestrado. Percurso longo, enriquecedor e gratificante. Hoje tenho a meta à vista.
Contudo,  esta metáfora não será muito feliz. Nem eu sou corredor de fundo nem o percurso é uma maratona de resistência. Embora tenha alguns desses atributos, um Mestrado é muito mais do que isso. Ao fim destes anos, sinto que não sou o mesmo - e esse é o significado mais profundo deste tempo. Aceder ao conhecimento, sabendo que ele nunca se esgota. Questionar para encontrar novas interrogações. Descobrir veredas e atalhos. Perder-se neles e voltar ao princípio. Sentir a alegria do montanhista quando atinge novo cume.

Um desses cumes foi a revelação de que me parecia atribuída uma missão na misteriosa complexidade da vida. Uma epifania, no sentido filosófico do termo: resgatar a memória da CASA HIPÓLITO, a maior empresa de Torres Vedras que nasceu, cresceu, foi adulta. entrou em decadência e teve o seu fim - ao longo de todo o século XX.

O trabalho a que me dediquei nestes  anos vai agora ser apresentado:

CASA HIPÓLITO: MEMÓRIAS E PATRIMÓNIO DE UMA FÁBRICA TORRIENSE.

Não é a última palavra sobre o assunto, é um contributo a acrescentar a outros.
Como digo em dado passo do trabalho:

Temos consciência das limitações deste trabalho, incursão pioneira em território mal conhecido de onde apenas havia notícias parcelares, dispersas e frequentemente veiculadas pelo preconceito. Eivada de alguma temeridade e de muito entusiasmo, esta caminhada exigiu vigor de estafeta que inicia o percurso. Bom será que venham outros e peguem no testemunho. Decerto chegarão mais além no conhecimento da que foi a mais importante unidade fabril do concelho de Torres Vedras no século XX. 

E também:

Cientes destas condicionantes, propusemo-nos escrever a História da Casa Hipólito, articulando-a com as Memórias e o Património da empresa. Porém, no decorrer do nosso labor apercebemo-nos de que a componente histórica, só por si, exigiria um programa de investigação que não cabia nos nossos propósitos.[1] Acresce que o processo de falência ainda não está concluído – dezoito anos passados sobre o Despacho judicial decisório – e os intervenientes têm ainda muito fresca a lembrança dos conflitos que lhe estão ligados. Há interesses antagónicos em jogo que correm seus trâmites nos corredores judiciais – desde dívidas aos trabalhadores até às que são reivindicadas pela Fazenda Pública. Como fazer a História de algo que ainda está tão vivo?
Assim sendo, optámos por uma abordagem memorialística orientada pela linha do tempo cronológico Mais do que uma narrativa histórica sistemática e global, o que propomos é um olhar através do qual fomos fixando quadros, momentos, parcelas - das memórias vivas e das reminiscências escritas. Será uma pequena História?[2]
Quanto à História da empresa, construída numa perspectiva totalizante, na qual se esgotem os aspectos económicos, técnicos e sociais, alguém a escreverá um dia, numa construção serena só possível com o aval do tempo. Até lá, fixemos algumas memórias, recordemos episódios, guardemos a lembrança. A mais não aspiramos, na humildade de quem se abeirou do passado recente com o único intuito de o não deixar cair no esquecimento. Que dele perdure a memória.




[1] Uma História da empresa implicaria a abordagem sistemática de informações de carácter económico (investimentos, lucros, dividendos…), social (número de trabalhadores, sua caracterização e origem…), de gestão (administração, organização fabril…), de produção (instalações, produtos fabricados, tecnologias usadas…), seriação e tratamento de dados quantitativos (quantidades de produtos fabricados, dimensão do mercado interno e das exportações, evolução dos custos…), etc.
[2] Correndo o risco de reducionismo teórico, temos presente a reflexão de Ronaldo Vainfas no seu Os protagonistas anónimos da História – Micro-história (Rio de Janeiro, Ed. Campus, 2002), nomeadamente quando cita Pierre Nora numa entrevista dada por este, em 1974, ao Nouvel Observateur: “É essa noção de história total que me parece problemática hoje. Vivemos uma história em migalhas, ecléctica, ampliada em direcção às curiosidades, às quais não precisamos nos recusar”(p. 33).

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Por tudo isto, o CONVITE que aqui deixo é um apelo de partilha. A defesa desta dissertação de Mestrado não é uma manobra de afirmação pessoal. É, sim, um passo para preservar a memória daquela que foi a maior empresa de Torres Vedras e, também, uma proposta de perpetuação patrimonial através da criação de um espaço museológico dedicado às memória do trabalho.

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