Morreu o homem que abriu caminhos de
entendimento para a arte contemporânea. Ver no PÚBLICO:
http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-arthur-danto-o-inventor-do-mundo-da-arte-
http://www.publico.pt/cultura/noticia/morreu-arthur-danto-o-inventor-do-mundo-da-arte-
O ALPINISTA E DANTO
Quando um jornalista perguntou ao alpinista João Garcia porque
é que escalava montanhas, ele respondeu: “porque elas estão lá.”
Soube que Arthur Danto morreu hoje. Quem era este homem de
quem se fala e que eu desconhecia?
Numa pesquisa rápida, dei-me com um pequeno ensaio de Danto:
”Marcel Duchamp e o fim do gosto: uma defesa da arte contemporânea”: http://www.cap.eca.usp.br/ars12/arthur_danto.pdf)
Como tantas vezes acontece aos que deixam obras marcantes,
Danto continuará vivo no poder esclarecedor dos seus estudos. Rapidamente o
descobri na resposta que propõe para um problema que há muito me incomoda,
interroga e intriga: a arte contemporânea.
Neste texto, Danto reflecte sobre as posições de Jean Clair,
director do Museu Picasso em Paris, que se tornou acérrimo adversário da arte
contemporânea. Danto pega na velha questão dos conceitos de “bom gosto e mau
gosto” e, numa apaixonante digressão pela História de Arte, relembra os
itinerários de outro conceito desafiador, o de “abjecção”, para mostrar como
ele tem de ser entendido no contexto histórico. Porque não há pensamento/acção
fora da História. Veja-se a imagem de Cristo cruxificado, semi-nu e repleto de
chagas, pendurado numa armação de madeira: seria chocantemente abjecta se
deslocada do contexto da Contra –Reforma em que foi proposta aos crentes.
Entendi que é este o ponto de partida de Danto para nos
ensinar a entender a arte contemporânea e a perplexidade que ela tantas vezes
nos causa. Ao historiador-crítico de arte (designação tão usada por Vitor
Serrão) não compete condenar ou absolver mas sim desvendar, entender os
significados múltiplos que a arte dos nossos dias nos propõe.
À semelhança do alpinista, compete-nos ver, olhar e tentar
entender a obra de arte simplesmente porque
ela está lá.
J. Moedas Duarte
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