HÁ UMA “VERDADE” OU “PARCELAS DE VERDADE”?
Reflectindo sobre a possibilidade de chegar à verdade a
partir das teorizações do Círculo de Viena (neopositivismo) e das
contribuições/correcções de Karl Popper, anoto:
Nas Ciências Sociais (CS) como nas Naturais (CN)
parte-se sempre de um problema para o
qual se propõem soluções que devem
ser alvos de crítica, (tentativa/erro/nova
tentativa/novo erro…
K. Popper diz textualmente: “A tensão entre
saber e não-saber conduz ao problema e à tentativa de solução. Porém, jamais é
superada” (cf. K.Popper, Em busca de um
mundo melhor, ed. Fragmentos, Lisboa, 1989, cap. A lógica das Ciências
Sociais, pp. 71 e sgts). Portanto:
todo o nosso saber é provisório.
todo o nosso saber é provisório.
Popper defende que a sua “doutrina
criticista dos métodos” permite chegar à verdade através de explicações
lógico-dedutivas. Mas noutro passo defende que, mais do que chegar à verdade, o
que há são “aproximações à verdade”.
Ora é aqui que me interrogo: se não é
possível chegarmos à verdade mas apenas aproximarmo-nos dela, isto não é
voltamos ao niilismo de Nietzsche? Popper tem consciência disso porque no final
da conferência cita Xenófanes (“Com o correr do tempo, procurando, vamos
descobrindo o melhor”). E mais não diz.
Pergunto: é abusivo propor a distinção entre
o conceito de verdade e o de parcelas de verdade? Isso cabe no
pensamento de Popper?
É que, nessa perspectiva, quando se falasse
em “verdade” isso deveria significar “verdades parcelares”, isto é, partes do
Todo que é a Vida. É possível atingir “verdades parcelares”, num processo
contínuo de “aproximação” à verdade total da vida. Parece-me que, sem esta
distinção, não saímos do niilismo nem do paradoxo de Zenão.
Uma questão lateral (ou não…): K. Popper pode ser incluído
na grande vaga pós-moderna dos teóricos que denunciaram o totalitarismo
iluminista? Ou o seu cepticismo é uma opção táctica radical, que ele opõe à
barbárie do profetismo científico que deu origem ao Gulag?(cf. Timothy Ferris, Ciência e Liberdade – democracia, razão e
leis da natureza, Gradiva, Lisboa, 2013; cp. 10, Anticiência totalitária,
pp.315-386).
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