segunda-feira, 28 de outubro de 2013

HÁ UMA “VERDADE” OU “PARCELAS DE VERDADE”?



HÁ UMA “VERDADE” OU “PARCELAS DE VERDADE”?

Reflectindo sobre a possibilidade de chegar à verdade a partir das teorizações do Círculo de Viena (neopositivismo) e das contribuições/correcções de Karl Popper, anoto:
Nas Ciências Sociais (CS) como nas Naturais (CN) parte-se sempre de um problema para o qual se propõem soluções que devem ser alvos de crítica, (tentativa/erro/nova tentativa/novo erro…

K. Popper diz textualmente: “A tensão entre saber e não-saber conduz ao problema e à tentativa de solução. Porém, jamais é superada” (cf. K.Popper, Em busca de um mundo melhor, ed. Fragmentos, Lisboa, 1989, cap. A lógica das Ciências Sociais, pp. 71 e sgts). Portanto:
todo o nosso saber é provisório.

Popper defende que a sua “doutrina criticista dos métodos” permite chegar à verdade através de explicações lógico-dedutivas. Mas noutro passo defende que, mais do que chegar à verdade, o que há são “aproximações à verdade”.

Ora é aqui que me interrogo: se não é possível chegarmos à verdade mas apenas aproximarmo-nos dela, isto não é voltamos ao niilismo de Nietzsche? Popper tem consciência disso porque no final da conferência cita Xenófanes (“Com o correr do tempo, procurando, vamos descobrindo o melhor”). E mais não diz.

Pergunto: é abusivo propor a distinção entre o conceito de verdade e o de parcelas de verdade? Isso cabe no pensamento de Popper?
É que, nessa perspectiva, quando se falasse em “verdade” isso deveria significar “verdades parcelares”, isto é, partes do Todo que é a Vida. É possível atingir “verdades parcelares”, num processo contínuo de “aproximação” à verdade total da vida. Parece-me que, sem esta distinção, não saímos do niilismo nem do paradoxo de Zenão.

Uma questão lateral (ou não…): K. Popper pode ser incluído na grande vaga pós-moderna dos teóricos que denunciaram o totalitarismo iluminista? Ou o seu cepticismo é uma opção táctica radical, que ele opõe à barbárie do profetismo científico que deu origem ao Gulag?(cf. Timothy Ferris, Ciência e Liberdade – democracia, razão e leis da natureza, Gradiva, Lisboa, 2013; cp. 10, Anticiência totalitária, pp.315-386).

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