Quando me iniciei nos estudos
universitários, na Faculdade de Letras, tive grandes discussões com antigos
colegas de Liceu que tinham ido para o Técnico. Eles defendiam o primado das
“ciências exactas”, contrapondo-as às minhas “humanidades”. Acantonados atrás
da Matemática e da Física, desvalorizavam o que consideravam “as especulações
subjectivas da Filosofia e as descrições fantasistas da História “.
Valeu-me um mestre, o prof.
Borges de Macedo, que na disciplina de Teoria da História, logo no 1º ano da
Licenciatura, nos conduziu às grandes questões das Ciências Sociais.
Foi a minha descoberta da Sociologia – que o ensino liceal salazarista desvalorizara, por perigosa e subversiva – e da Nova História dos Annales, que me deu os argumentos com que passei a defrontar o cientismo míope dos meus antigos colegas.
Foi a minha descoberta da Sociologia – que o ensino liceal salazarista desvalorizara, por perigosa e subversiva – e da Nova História dos Annales, que me deu os argumentos com que passei a defrontar o cientismo míope dos meus antigos colegas.
Parece-me longínquo este
confronto, que ninguém hoje defenderia. De certo modo, todas as ciências são
sociais, na medida em que se focam sobre o homem em sociedade, sendo elas
mesmas um produto da organização social. Dessa globalidade, destacam-se as
“ciências humanas” por recortarem do todo social o objecto particular “homem”.
Mas nesta engenharia prática de subdivisões de estudo não pode perder-se a
perspectiva global. Cada estudioso de um aspecto diferenciado não deve esquecer
que ele se integra sempre num todo que é o homem e a sociedade. O que hoje
parece evidente, já foi, em tempos, motivo de iradas disputas.
Encontrei em Fernand Braudel uma
comparação ajustada: a vida do homem é como uma paisagem de que cada uma das
ciências humanas estuda um fragmento. Verifica-se a tendência de cada uma valorizar
o seu ponto de vista em detrimento das restantes, mas é imperioso que não perca
o sentido da paisagem global. (cf. BRAUDEL, Fernand, História e ciências sociais, “Unidade e diversidade das ciências do
homem”, ed. Presença, Lisboa, 1972, p. 243 e sg.) Braudel escrevia nos anos 50,
queixando-se dessa tendência parcelizadora mas, entretanto, já muita água
correu no rio do tempo. Actualmente nem as ciências humanas perdem o sentido
das mais abrangentes ciências sociais, nem estas se alheiam do percurso das
ciências naturais. Tal como na economia e na política, também as ciências
entraram na era da globalização.
Aos meus colegas de Liceu, se
hoje os encontrasse, diria com um sorriso: “ Éramos uns alegres e convencidos
patetas. Hoje sabemos que, afinal, isto está tudo ligado.”
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