segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

ISTO ESTÁ TUDO LIGADO

Quando me iniciei nos estudos universitários, na Faculdade de Letras, tive grandes discussões com antigos colegas de Liceu que tinham ido para o Técnico. Eles defendiam o primado das “ciências exactas”, contrapondo-as às minhas “humanidades”. Acantonados atrás da Matemática e da Física, desvalorizavam o que consideravam “as especulações subjectivas da Filosofia e as descrições fantasistas da História “.
Valeu-me um mestre, o prof. Borges de Macedo, que na disciplina de Teoria da História, logo no 1º ano da Licenciatura, nos conduziu às grandes questões das Ciências Sociais.
Foi a minha descoberta da Sociologia – que o ensino liceal salazarista desvalorizara, por perigosa e subversiva – e da Nova História dos Annales, que me deu os argumentos com que passei a defrontar o cientismo míope dos meus antigos colegas.

Parece-me longínquo este confronto, que ninguém hoje defenderia. De certo modo, todas as ciências são sociais, na medida em que se focam sobre o homem em sociedade, sendo elas mesmas um produto da organização social. Dessa globalidade, destacam-se as “ciências humanas” por recortarem do todo social o objecto particular “homem”. Mas nesta engenharia prática de subdivisões de estudo não pode perder-se a perspectiva global. Cada estudioso de um aspecto diferenciado não deve esquecer que ele se integra sempre num todo que é o homem e a sociedade. O que hoje parece evidente, já foi, em tempos, motivo de iradas disputas.

Encontrei em Fernand Braudel uma comparação ajustada: a vida do homem é como uma paisagem de que cada uma das ciências humanas estuda um fragmento. Verifica-se a tendência de cada uma valorizar o seu ponto de vista em detrimento das restantes, mas é imperioso que não perca o sentido da paisagem global. (cf. BRAUDEL, Fernand, História e ciências sociais, “Unidade e diversidade das ciências do homem”, ed. Presença, Lisboa, 1972, p. 243 e sg.) Braudel escrevia nos anos 50, queixando-se dessa tendência parcelizadora mas, entretanto, já muita água correu no rio do tempo. Actualmente nem as ciências humanas perdem o sentido das mais abrangentes ciências sociais, nem estas se alheiam do percurso das ciências naturais. Tal como na economia e na política, também as ciências entraram na era da globalização.

Aos meus colegas de Liceu, se hoje os encontrasse, diria com um sorriso: “ Éramos uns alegres e convencidos patetas. Hoje sabemos que, afinal, isto está tudo ligado.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário