sábado, 16 de agosto de 2014

UMA HISTÓRIA DE AMOR, UM LUGAR DE MEMÓRIA



(Foto de Eduardo Gajeiro)

  
Ele veio do Leste, Hungria; ela, do Sudoeste, Portugal. Por volta de 1928 encontraram-se em Paris, onde estudavam pintura. Casaram-se em 1930 e viveram juntos até à morte de Arpad em 1985. Helena morreu sete anos depois. «São a mais bela história de amor e pintura que jamais conheci» - escreveu Mário Cesariny. Uma história assim merecia um memorial que a perpetuasse. Ele existe no coração de Lisboa, às Amoreiras: é a Fundação e a Casa-Atelier Arpad Szenes/Vieira da Silva. A Fundação foi inaugurada em 1994 e a Casa-Atelier em 2013. A primeira ocupa o edifício da antiga Fábrica de tecidos de seda, no Jardim das Amoreiras onde, no século passado, existiam 331 árvores que alimentavam os bichinhos operários. A segunda é a própria casa de família onde a artista e o marido se alojavam quando estavam em Portugal. Uma e outra são vizinhas e cumprem desígnios semelhantes: perpetuar a memória pessoal e artística de dois seres que se encontraram na pintura e que marcaram indelevelmente o panorama artístico português e europeu da primeira metade do século XX.

Tivemos ocasião de visitar a Fundação AS/VS há já alguns anos. Agora, através do sítio-em-linha fizemos uma visita virtual. É um espaço muito bem concebido e concretizado. A página de abertura concentra todos os pontos de ligação de uma forma clara e intuitiva. Evita a tentação esteticista da letra minúscula (o malfadado corpo 7, ou até 6… que encontramos em certas páginas em-linha) ou a articulação pretensamente criativa que exige do leitor um esforço de alguém perdido num labirinto para encontrar as saídas e os regressos de e para o ponto de partida. Apreciamos a simplicidade e do rigor deste sítio. A plataforma em que se insere a página tem capacidade suficiente para que possamos navegar sem os arreliadores tempos de espera, devidos à descarga lenta de imagens e ligações. Aqui tudo se faz com celeridade natural, o que dispõe bem e incentiva a continuar.

Em cada ligação encontramos a informação necessária e suficiente. Vê-se que, também aqui, se resistiu a outra tentação: a do enciclopedismo, do meter tudo, de juntar muitos dados e informações, muitas imagens e ligações para o exterior. Há conta, peso e medida.
As fotos que se incluem são límpidas, não pretensiosas, documentais, sem outro intuito que não seja o de completar a informação escrita. As reproduções de pinturas dos dois artistas são escassas mas de boa qualidade e com as informações técnicas exigíveis. O acervo documental e a biblioteca especializada são bem apresentados, de modo a suscitar a curiosidade para uma visita. É claro que gostaríamos de ver aqui a digitalização para consulta em-linha de uma parte significativa do espólio existente. Desejamos que essa seja a evolução natural, a ter em conta quem vive longe, seja em Portugal ou no estrangeiro.
                                
                Vieira da Silva: Autoportrait (1931)              


 Arpad Szenes: Autoportrait ( 1924-25)     
              
«A colecção do Museu Arpad Szenes-Vieira da Silva reúne um significativo núcleo de pintura e desenho, que cobre um vasto período da produção dos dois artistas: de 1911 a 1985 para Arpad Szenes, e de 1926 a 1986 para Vieira da Silva. O núcleo de gravura da artista inclui também obras de 1990 e 1991, um ano antes da sua morte.
A colecção de obras de arte do Museu incorpora ainda obras de artistas contemporâneos do casal, seus amigos, admiradores ou discípulos - no caso de Arpad Szenes, donde se destaca um conjunto de obras de artistas portugueses, na sua maioria em início de carreira.
A colecção integra ainda edições especiais ilustradas por Arpad Szenes e Vieira da Silva, um importante núcleo de fotografia proveniente do arquivo pessoal dos artistas e um fundo epistolográfico de cerca de 4 000 itens que remonta aos anos 1930, data coincidente com a ida de Vieira da Silva para Paris e posterior casamento com Arpad Szenes e engloba a correspondência do casal Szenes com artistas e intelectuais portugueses e estrangeiros ao longo de décadas.» (Do sítio-em-linha)

Acreditamos que nesta aproximação virtual aos espaços que foram habitados ou que preservam a memória de Arpad e Helena, partilhámos do mesmo sentimento que presidiu à sua criação: um imenso e carinhoso cuidado pela obra imortal que ali se celebra e evoca - e também um grande amor pela vida que uniu estes seres que nos legaram momentos tão altos de expressão artística.
Fomos convincentes? Então podem fazer também uma visita virtual. Sigam por aqui:

J. Moedas Duarte




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