View of the Kunstkammer (chamber of art) in Berlin, 1704
http://ansmagazine.com/Winter04/Berlin
Os conceitos de Schatzkammer, Kuntskammer e Wunderkammer
aplicam-se a um fenómeno cultural relacionado com o Renascimento e que se pode
designar, genericamente, como colecção e
exposição de objectos dignos de apreço.
De facto, as mudanças
verificadas na estrutura política e social dos países europeus, resultantes dos
condicionalismos gerados, primeiro pela afirmação do poder régio e depois pela
descoberta e exploração de novos continentes, originaram atitudes culturais
inovadoras das elites europeias. O conceito de Schatzkammer (arca de tesouro) aplica-se ao entesouramento de bens
móveis, característico da Idade Média mas prosseguido com novos padrões de
gosto e de interesses pelas Cortes e aristocracias profanas e eclesiásticas dos
séculos XV e XVI – em que se guardam, além do dinheiro vivo, joias, pedras
preciosas, iluminuras, tapeçarias, roupas de luxo, mobiliário, etc.
Os conceitos de Kunstkammer e Wunderkammer designam a prática de procura, organização e exposição
em espaços restritos de objectos diversificados com o intuito de ilustrar a
variedade e a complexidade do mundo conhecido. Se parecem revelar exibição e
afirmação de poder e superioridade intelectual dos seus proprietários, também
se infere deles o desígnio de instruir e de exaltar o Criador divino pelas
obras maravilhosas que pôs à disposição dos homens.
Tem-se usado o termo Kunstkammer para designar um gabinete
(pequeno espaço) ou armário (móvel com prateleiras e portadas) em que se mostram
curiosidades e objectos estranhos ou raros, de forma organizada e a partir de
critérios determinados pelo colecionador, onde se podem encontrar espécimes
naturais da flora e da fauna (naturalia),
manufacturas (artificialia) ou
objectos de povos antigos (antiquitas).
O conceito Wunderkammer (colecção de arte e
maravilhas) liga-se preferencialmente à organização e exposição de mirabilia, que vão dos objectos artísticos
às relíquias contidas em peças de ourivesaria, das cartas e portulanos raros aos
exemplares exóticos do mais diverso teor, trazidos pelos marinheiros e
comerciantes nas suas viagens aos novos territórios da África, Ásia e Américas.
É neste ponto que
radica a importância dos Descobrimentos portugueses. O contacto com os novos
mundos permitiu a recolha e o estudo de exemplares até então desconhecidos nos
campos da fauna e da flora, bem como de rochas e de objectos etnográficos
exóticos. Outra área importante foi a do desenho cartográfico e astronómico, realizado
durantes as viagens marítimas, base da geografia e astronomia modernas.
Desenvolveram-se novas práticas de inventariação e classificação,
imprescindíveis para o estudo e conhecimento da zoologia, botânica e geologia.
A atitude colecionadora, expressa naqueles
conceitos, prefigura o estabelecimento do espírito científico seiscentista e a
preocupação enciclopédica característica de setecentos - e está na origem dos museus criados no século XIX – que se
constituíram, frequentemente, a partir dos acervos contidos naquelas colecções.
Torres Vedras, 14 de Abril de 2014
Joaquim Moedas Duarte
BIBLIOGRAFIA DE APOIO:
BRIGOLA, João Carlos
(coord.) – Coleccionismo no século XVIII, textos e documentos. Porto: Porto
editora, 2009.
FILHO, Durval de Lara – Museu: de espaço do mundo a espaço
relacional. [Em linha]. S. Paulo: Escola de Comunicações e Artes, 2006.
Dissertação de Mestrado. [Consult. 10-04-2014]. Disponível na Internet:<URL:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27151/tde-30112006-105557/pt-br.php
GSCHWEND, Annemarie Jordan –
Catarina de Áustria: Colecção e Kunstkammer de uma Princesa Renascentista. Oceanos. Lisboa: Comissão
Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, n.° 16 (Dezembro1993),
p.62-70.
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