sábado, 6 de setembro de 2014

COLECCIONISMO E MUSEOLOGIA

ASPECTOS RELEVANTES DO COLECCIONISMO E MUSEOLOGIA
- DA REVOLUÇÃO LIBERAL AO ADVENTO DA REPÚBLICA


     


     O primeiro aspecto que consideramos relevante é a progressiva noção de interesse público e de utilidade para a instrução estudantil dos acervos de objectos coleccionados. É uma ideia que vai ganhando corpo a partir das iniciativas do Marquês de Pombal para a formação do malogrado príncipe D. José e para a reforma da Universidade de Coimbra e que se desenvolve ao longo de todo o século XIX.[1] Nessa perspectiva, as colecções constituídas por curiosidade e capricho de aristocratas passam a ser vistas como instrumentos de grande utilidade para a instrução dos jovens e da população em geral. A própria ideia de ostentação – tão característica do coleccionismo da fase anterior, já por nós estudada, - é abandonada em favor de opções mais modestas e práticas. [2]

   O segundo aspecto que pomos em relevo é o da institucionalização da concepção de Museu e o progressivo alargamento do âmbito privado para o de museu-público. Embora a palavra já fosse comummente usada em simultâneo com os termos de coleccionismo ou gabinetes de curiosidades, o que se tornou realmente significativo foi a organização e funcionamento de espaços denominados Museus. Paulo Ramos refere a data de Junho de 1833 como simbólica desta inovação cultural de enorme importância, quando João Baptista Ribeiro apresentou um regulamento para o funcionamento do que viria a ser o Museu Portuense. E é bem patente nesse documento a ideia de instrução e divulgação de conhecimentos que tal instituição devia prosseguir, na linha do legado pombalino.

 Por último referimos o que J. Amado Mendes sublinhou como tendências gerais da museologia portuguesa no século XIX[3]: proliferação de museus de diversa índole, quer na localização quer no tipo de acervo. De referir, de modo especial, a criação de museus ligados à indústria e/ou actividades artesanais, prefigurando a crescente importância do Património Industrial que tão grande expressão viria a ganhar na segunda metade do século XX. Acentua-se a noção de que os museus são importantes instrumentos de educação e auxiliares da instrução pública. Todavia, tal proliferação não significa excelência qualitativa dos museus, facto expressivamente evidenciado no texto d’O Archeologo Português, Novembro de 1897, citado por Paulo Ramos.[4] Na diversidade de acervos museológicos devemos incluir, também, os que se referem às Artes e à Arqueologia. Em relação aos primeiros, Raquel Henriques da Silva[5] traça a evolução desde as colecções privadas de membros da alta aristocracia portuguesa até ao relevante contributo do rei consorte D. Fernando de que o exemplo mais significativo foi a Galeria Nacional de Pintura que daria origem ao Museu Nacional de Arte Antiga.


Joaquim Moedas Duarte

[1] Cf: Paulo Oliveira Ramos – Breve História do Museu em Portugal. In: Iniciação à Museologia, coord. Maria Beatriz Richa-Trindade. Lisboa: Universidade Aberta, 1993, pp. 22 e segts.
[2] Idem, p. 25.
[3] Cf. J. Amado Mendes – Museus e educação. Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2ª ed., 2013, p. 35.
[4] Paulo Oliveira Ramos, opus.cit., p.42.
[5] Raquel Henriques da Silva – Coleccionismo de Arte no Portugal de Oitocentos. In Henri Burnay: de Banqueiro a Coleccionador, Lisboa: Casa-mUseu Anastacio Goncalves, 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário