ASPECTOS RELEVANTES DO COLECCIONISMO E MUSEOLOGIA
- DA REVOLUÇÃO LIBERAL AO ADVENTO DA REPÚBLICA
O primeiro aspecto que consideramos relevante é a progressiva noção de interesse público e de utilidade
para a instrução estudantil dos acervos de objectos coleccionados. É
uma ideia que vai ganhando corpo a partir das iniciativas do Marquês de Pombal
para a formação do malogrado príncipe D. José e para a reforma da Universidade
de Coimbra e que se desenvolve ao longo de todo o século XIX.[1]
Nessa perspectiva, as colecções constituídas por curiosidade e capricho de
aristocratas passam a ser vistas como instrumentos de grande utilidade para a
instrução dos jovens e da população em geral. A própria ideia de ostentação –
tão característica do coleccionismo da fase anterior, já por nós estudada, - é
abandonada em favor de opções mais modestas e práticas. [2]
O segundo aspecto que pomos em relevo é o da institucionalização da concepção de Museu e
o progressivo alargamento do âmbito privado para o de museu-público. Embora
a palavra já fosse comummente usada em simultâneo com os termos de coleccionismo ou gabinetes de curiosidades, o que se tornou realmente significativo
foi a organização e funcionamento de espaços denominados Museus. Paulo Ramos refere a data de Junho de 1833 como simbólica
desta inovação cultural de enorme importância, quando João Baptista Ribeiro
apresentou um regulamento para o funcionamento do que viria a ser o Museu Portuense. E é bem patente nesse
documento a ideia de instrução e divulgação de conhecimentos que tal
instituição devia prosseguir, na linha do legado pombalino.
Por último referimos o que J. Amado Mendes
sublinhou como tendências gerais da museologia portuguesa no século XIX[3]:
proliferação de museus de diversa índole,
quer na localização quer no tipo de acervo. De referir, de modo especial, a
criação de museus ligados à indústria e/ou actividades artesanais, prefigurando
a crescente importância do Património Industrial que tão grande expressão viria
a ganhar na segunda metade do século XX. Acentua-se a noção de que os museus
são importantes instrumentos de educação e auxiliares da instrução pública.
Todavia, tal proliferação não significa excelência qualitativa dos museus,
facto expressivamente evidenciado no texto d’O Archeologo Português, Novembro de 1897, citado por Paulo Ramos.[4]
Na diversidade de acervos museológicos devemos incluir, também, os que se
referem às Artes e à Arqueologia. Em relação aos primeiros, Raquel Henriques da
Silva[5]
traça a evolução desde as colecções privadas de membros da alta aristocracia
portuguesa até ao relevante contributo do rei consorte D. Fernando de que o
exemplo mais significativo foi a Galeria Nacional de Pintura que daria origem
ao Museu Nacional de Arte Antiga.
Joaquim Moedas Duarte
[1] Cf:
Paulo Oliveira Ramos – Breve História do Museu em Portugal. In: Iniciação à Museologia, coord. Maria
Beatriz Richa-Trindade. Lisboa: Universidade Aberta, 1993, pp. 22 e segts.
[2] Idem, p. 25.
[3] Cf. J.
Amado Mendes – Museus e educação.
Coimbra, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2ª ed., 2013, p. 35.
[4] Paulo
Oliveira Ramos, opus.cit., p.42.
[5] Raquel
Henriques da Silva – Coleccionismo de Arte no Portugal de Oitocentos. In Henri
Burnay: de Banqueiro a Coleccionador, Lisboa: Casa-mUseu Anastacio
Goncalves, 2003.
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