segunda-feira, 25 de novembro de 2013

EM TORNO DO BARROCO






BARROCO: O CONCEITO

Para o homem contemporâneo, é uma palavra carregada de ambiguidade, que pode ter valor de substantivo ou de adjectivo. O adjectivo com o significado de excessivo, opulento, ligado à ideia de quantidade, de sobreposição. O substantivo apontando para um estilo em que a forma se sobrepõe à função. Visualmente associa-se o conceito de barroco à variedade de formas, ao capricho artístico.
Estas acepções padecem de falta de rigor: ou porque não têm em conta os campos de aplicação (está-se a falar de arquitectura? De artes decorativas? De literatura? etc…) ou o tempo histórico em que se manifestam. Ignoram, igualmente, que não há um conceito de “puro barroco” e que na chamada época barroca sempre conviveram realidades diversas que se autocontaminavam e, assim, se enriqueciam.

Este breve apontamento resulta do cruzamento das leituras que tenho feito sobre o assunto, com uma visita guiada que hoje orientei à Igreja da Graça, em Torres Vedras. É um templo de traça maneirista, (ou de “estilo chão”) concluído em 1580, no qual se aplicaram posteriormente, ao longo do séc. XVIII, retábulos laterais de talha dourada e dois púlpitos de madeira. É um bom exemplo do que Carlos Moura refere quando diz que “o barroco dilata enormemente o seu terreno de acção, porque se instala também em construções anteriores” (cf. MOURA, Carlos, " O sentido do Barroco na arte seicentista e do início do século XVIII" in História da Arte em Portugal, edições Alfa, Lisboa, Lisboa, 1989. )

O BARROCO NÃO CABE NA CRONOLOGIA
Se é verdade que o conceito atravessa a História da Arte – a um período artístico de predomínio  de despojamento, de simplicidade de formas e de processos, sucede sempre outro de complexidade e decorativismo – então não é possível fixar balizas cronológicas em que caiba o conceito de barroco, ele é um fenómeno histórico-cultural recorrente. Será a isto que G. Deleuze se refere na abordagem filosófica ao conceito de barroco a partir da noção de “dobra” ou “prega”. (cf. “Barroco”, Dicionário de estética, dir. Gianni Carchia e Paolo D’Angelo, Ed. 70, Lisboa, 2003).

Contudo, a cultura ocidental considera que o conceito de barroco é operativamente necessário para o estudo da evolução da arquitectura e das artes decorativas a ela associadas – revestimentos, escultura, pintura - e é nessa perspectiva que se procuram pontos de referência cronológica, como o final do séc. XVII até à penúltima década do séc. XVIII.  Mas é uma operação difícil dado que não há simultaneidade de manifestações do barroco nem quanto aos lugares nem quanto aos tempos. Se algures surgiu mais cedo, noutro lado prolongou-se por mais tempo. Se aqui coexistiu com o maneirismo, ali  conviveu com o neoclassicismo. Seja qual for a baliza marcada, sempre se encontrarão excepções. Veja-se o caso da chamada “Encomenda prodigiosa” – a capela de S. João Baptista na Igreja de S. Roque, em que coexistem, em simbiose perfeita, a tendência decorativa barroca com o desenho neoclássico da estrutura.

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