segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O BARROCO NÃO CABE NA CRONOLOGIA



Se é verdade que o conceito atravessa a História da Arte – a um período artístico de predomínio  de despojamento, de simplicidade de formas e de processos, sucede sempre outro de complexidade e decorativismo – então não é possível fixar balizas cronológicas em que caiba o conceito de barroco, ele é um fenómeno histórico-cultural recorrente. Será a isto que G. Deleuze se refere na abordagem filosófica ao conceito de barroco a partir da noção de “dobra” ou “prega”. (cf. “Barroco”, Dicionário de estética, dir. Gianni Carchia e Paolo D’Angelo, Ed. 70, Lisboa, 2003).
Contudo, a cultura ocidental considera que o conceito de barroco é operativamente necessário para o estudo da evolução da arquitectura e das artes decorativas a ela associadas – revestimentos, escultura, pintura - e é nessa perspectiva que se procuram pontos de referência cronológica. Em Portugal aponta-se o final do séc. XVII até à penúltima década do séc. XVIII.  Mas é uma operação difícil, sempre polémica, dado que não há simultaneidade de manifestações do barroco nem quanto aos lugares nem quanto aos tempos. Se algures surgiu mais cedo, noutro lado prolongou-se por mais tempo. Se aqui coexistiu com o maneirismo, ali  conviveu com o neoclassicismo. Seja qual for a baliza marcada, sempre se encontrarão excepções. Veja-se o caso da chamada “Encomenda prodigiosa” – a capela de S. João Baptista na Igreja de S. Roque, em que coexistem, em simbiose perfeita, a tendência decorativa barroca com o desenho neoclássico da estrutura.
De facto, o barroco parece sobrar sempre para fora de todas as linhas de demarcação…

Nenhum comentário:

Postar um comentário