Se é verdade que o conceito atravessa a História da Arte – a um período
artístico de predomínio de despojamento, de simplicidade de formas e de
processos, sucede sempre outro de complexidade e decorativismo – então não é
possível fixar balizas cronológicas em que caiba o conceito de barroco, ele é
um fenómeno histórico-cultural recorrente. Será a isto que G. Deleuze se refere
na abordagem filosófica ao conceito de barroco a partir da noção de “dobra” ou
“prega”. (cf. “Barroco”, Dicionário de estética, dir. Gianni
Carchia e Paolo D’Angelo, Ed. 70, Lisboa, 2003).
Contudo, a cultura ocidental considera que o conceito de barroco é
operativamente necessário para o estudo da evolução da arquitectura e das artes
decorativas a ela associadas – revestimentos, escultura, pintura - e é nessa
perspectiva que se procuram pontos de referência cronológica. Em Portugal
aponta-se o final do séc. XVII até à penúltima década do séc. XVIII. Mas
é uma operação difícil, sempre polémica, dado que não há simultaneidade de
manifestações do barroco nem quanto aos lugares nem quanto aos tempos. Se
algures surgiu mais cedo, noutro lado prolongou-se por mais tempo. Se aqui
coexistiu com o maneirismo, ali conviveu com o neoclassicismo. Seja qual
for a baliza marcada, sempre se encontrarão excepções. Veja-se o caso da
chamada “Encomenda prodigiosa” – a capela de S. João Baptista na Igreja de S.
Roque, em que coexistem, em simbiose perfeita, a tendência decorativa barroca
com o desenho neoclássico da estrutura.
De facto, o barroco parece sobrar sempre para fora de todas as linhas de
demarcação…
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