segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O CIENTISTA SOCIAL E OS JUÍZOS DE VALOR



 Já depois de ter escrito o apontamento anterior, reli um texto que tinha aqui por casa, de Max Weber ( Três tipos de poder e outros escritos, Lisboa, ed. Tribuna da História, 2005, p.177) e encontrei uma formulação que me fez pensar. Textualmente:
"Quem pretender fazer história da arte, inclusive no sentido puramente empírico, deve possuir a capacidade de 'compreender ' (sic) a produção artística; mas tal habilidade é inconcebível sem a capacidade de juízo estético, isto é, sem a capacidade (sic) de apreciação."
E no parágrafo seguinte deixa a interrogação:
"(...) em que sentido se pode falar de 'progresso' (sic) na história da arte, fora (sic) de toda a apreciação estética?"
De facto... se eu reflectir no caso, terei de rever a noção de neutralidade que seria desejável no historiador de arte. Continuo a pensar que ela é desejável, mas dentro de que limites? Porque, de facto, há limites: o historiador está dentro da História dos homens, sendo ele um homem e não um marciano. Tem uma formação académica - ou outra... - e uma formatação ideológica que será tanto mais de ter em conta quanto dela não tenha consciência.
A escolha do campo de observação para o seu estudo já parte de um juízo de valor: vou estudar isto e não aquilo, porque... Então, a garantia de seriedade científica do seu estudo deve radicar na clareza com que explica a escolha/problema, no enunciado das metodologias adoptadas e na referência ao seu ponto de vista
A este propósito, lembro-me que há trinta anos as ciências sociais debatiam-se com a obsessão da ideologia. Marcados pela perspectiva marxista, os teóricos não se cansavam de denunciar os erros de perspectiva e asopções de classe - era assim que se dizia - de quem quer que estudasse um fenómeno social. Leia-se:
"Na verdade, se todas as formações científicas concretas são formações teórico-ideológicas, as ciências sociais caracterizam-se pela dominação do ideológico." (cf. João F. Almeida e José Madureira Pinto, A investigação nas ciências sociais, Lisboa, ed. Presença, 1976, p.29)
Actualmente, este tipo de avisos à navegação parece-nos datado. Contudo, não defendo a sua inutilidade, como acima deixei implícito. 
Estas considerações talvez sejam óbvias mas só as vemos como tal depois de reflectirmos sobre elas..


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