segunda-feira, 25 de novembro de 2013

VALORES DURÁVEIS VS VALORES DE MERCADO



 Continuava eu de volta da questão dos “juízo de valor” ou “avaliação” (cf. WEBER, Max. “O sentido da «neutralidade axiológica» nas ciências sociológicas e económicas”, in: WEBER, Max, Sobre a teoria das ciências sociais, editorial Presença, Lisboa, 1974), conceitos necessários para a abordagem do trabalho do historiador – ou, no caso do ensaio referido, do professor de ciências sociais – quando me abeirei do texto de Vitor Serrão, “Mundo da arte globalizado e dimensões éticas”.
É um texto que aponta sem ambiguidades para a afirmação de valores duráveis, defendendo que a História da Arte pode e deve ser uma barreira contra a usura consumista que faz da obra de arte (OA) uma mercadoria transacionável como outra qualquer. Socorre-se de doutrinas que já vêm do Renascimento e que apontam para a Arte como instância de afirmação humanista e de promoção de valores transcendentes. Aplicada ao nosso tempo, esta perspectiva atribui ao Historiador-Crítico de Arte a capacidade para “analisar os porquês das estratégias comunicacionais que perduram com as obras de arte”, em linhas de investigação que devem escorar-se em princípios teóricos e metodológicos estruturados, numa aproximação aberta aos significados das OA, “numa postura ética irrepreensível”. (No texto são várias as insistências na ética comportamental de todos os agentes envolvidos nas questões da arte).
Há neste discurso um olhar crítico sobre o consumismo que também chegou ao mundo das artes, o qual deve ser contrariado pelos que estão envolvidos na História-Crítica da arte, no sentido da afirmação dos valores da cidadania. Invocando Walter Benjamin que propõe “novos modos de analisar a arte enquanto processo transformador” – a partir de conceitos como “aura” e “imagem dialética da OA” - , V. Serrão mostra como podemos entrever as múltiplas capacidades de análise que a História de Arte permite, ao mesmo tempo que afirma valores perduráveis que se sobrepõem às mutáveis circunstâncias do tempo histórico de curta duração.

De outro modo: o conjunto de análises portadoras de informações pertinentes aduzidas pela História-Crítica da Arte na sua “visão globalizante” funciona como garantia de perenidade contra a tendência imediatista dos interesses materiais. É esta atitude de seriedade analítica que pode corrigir a deriva consumista e modal do mundo comercial ligado às artes, contribuindo decisivamente para a sua humanização.
Há outras implicações neste texto que não cabe aqui explicitar para não me alongar. Retenho duas ideias que deixo em jeito de conclusão:
1.      O historiador-crítico de arte não deve alhear-se da necessidade de “avaliar” a OA, a qual não pode ser vista como objecto inerte mas sim como gerador de dinâmicas de significação sempre renovadas, numa perspectiva histórica que privilegie a longa duração em detrimento da circunstância mutável, determinada pelos mecanismos de mercado que tendem a impor-se.
2.      Ao contrário do que certos teóricos prediziam no final do 2º milénio, as artes afirmam-se hoje com crescente dinamismo e capacidade interrogadora do mundo globalizado em que entrámos definitivamente. Isso arrastará inevitavelmente os historiadores da arte para “novas possibilidades de investigação”, exigindo-lhes como bilhete de viagem uma crescente capacidade para afirmar valores duráveis que contrariem os voláteis valores do mercado das artes. 


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