Continuava
eu de volta da questão dos “juízo de valor” ou “avaliação” (cf. WEBER, Max. “O
sentido da «neutralidade axiológica» nas ciências sociológicas e económicas”,
in: WEBER, Max, Sobre a teoria das ciências sociais, editorial
Presença, Lisboa, 1974), conceitos necessários para a abordagem do trabalho do
historiador – ou, no caso do ensaio referido, do professor de ciências sociais
– quando me abeirei do texto de Vitor Serrão, “Mundo da arte globalizado e
dimensões éticas”.
É um
texto que aponta sem ambiguidades para a afirmação de valores duráveis,
defendendo que a História da Arte pode e deve ser uma barreira contra a usura
consumista que faz da obra de arte (OA) uma mercadoria transacionável como
outra qualquer. Socorre-se de doutrinas que já vêm do Renascimento e que
apontam para a Arte como instância de afirmação humanista e de promoção de
valores transcendentes. Aplicada ao nosso tempo, esta perspectiva atribui ao
Historiador-Crítico de Arte a capacidade para “analisar os porquês das
estratégias comunicacionais que perduram com as obras de arte”, em linhas de
investigação que devem escorar-se em princípios teóricos e metodológicos
estruturados, numa aproximação aberta aos significados das OA, “numa postura
ética irrepreensível”. (No texto são várias as insistências na ética
comportamental de todos os agentes envolvidos nas questões da arte).
Há neste
discurso um olhar crítico sobre o consumismo que também chegou ao mundo das
artes, o qual deve ser contrariado pelos que estão envolvidos na
História-Crítica da arte, no sentido da afirmação dos valores da cidadania.
Invocando Walter Benjamin que propõe “novos modos de analisar a arte enquanto
processo transformador” – a partir de conceitos como “aura” e “imagem dialética
da OA” - , V. Serrão mostra como podemos entrever as múltiplas capacidades de
análise que a História de Arte permite, ao mesmo tempo que afirma valores
perduráveis que se sobrepõem às mutáveis circunstâncias do tempo histórico de
curta duração.
De outro
modo: o conjunto de análises portadoras de informações pertinentes aduzidas
pela História-Crítica da Arte na sua “visão globalizante” funciona como
garantia de perenidade contra a tendência imediatista dos interesses materiais.
É esta atitude de seriedade analítica que pode corrigir a deriva consumista e
modal do mundo comercial ligado às artes, contribuindo decisivamente para a sua
humanização.
Há outras
implicações neste texto que não cabe aqui explicitar para não me alongar.
Retenho duas ideias que deixo em jeito de conclusão:
1.
O
historiador-crítico de arte não deve alhear-se da necessidade de “avaliar” a OA,
a qual não pode ser vista como objecto inerte mas sim como gerador de dinâmicas
de significação sempre renovadas, numa perspectiva histórica que privilegie a
longa duração em detrimento da circunstância mutável, determinada pelos
mecanismos de mercado que tendem a impor-se.
2.
Ao
contrário do que certos teóricos prediziam no final do 2º milénio, as artes
afirmam-se hoje com crescente dinamismo e capacidade interrogadora do mundo
globalizado em que entrámos definitivamente. Isso arrastará inevitavelmente os
historiadores da arte para “novas possibilidades de investigação”,
exigindo-lhes como bilhete de viagem uma crescente capacidade para afirmar
valores duráveis que contrariem os voláteis valores do mercado das artes.
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