Entre Março e Maio do ano passado o Museu Nacional de Arte
Antiga teve uma exposição com o título "Ilusionismos" dedicada ao
pintor "quadraturista" Vincenzo Bacherelli. Quem foi este homem?
Artista florentino, esteve em Portugal entre 1701 e 1719,
deixando um rasto duradouro do seu trabalho inovador, tanto nos discípulos que
criou como nas obras que legou. Destas, podem referir-se um tecto no Palácio
das Galveias, outro no Palácio de Alvor (Museu Nacional de Arte Antiga) e,
sobretudo, o tecto da Portaria de São Vicente de Fora - todos em Lisboa;
daqueles citam-se nomes como António Lobo e Luís Gonçalves Sena, entre outros.
Qual foi a grande inovação trazida por Baccherelli? Trata-se
de pintura cenográfica, aplicada nos tectos, em que se cria a ilusão de
estruturas arquitectónicas "obliquamente colocadas(...) simulando efeitos
de rasgamento de espaço" (Vitor Serrão, História da Arte em
Portugal, o Barroco, p. 250 e seg).
Esta pintura em perspectiva ilusionista - a chamada
"quadratura"- tem na Sé de Santarém um exemplo
conhecido, da autoria de um pintor baquereliano, António Simões Ribeiro (Cf. RETÓRICA
E PERSUASÃO NA ARTE BARROCA: O TETO DA IGREJA DO SEMINÁRIO JESUÍTICO EM
SANTARÉM, Magno Mello).
Contudo, diga-se que os tectos em tromp l'oeil
já existiam em Portugal. Veja-se o caso do da Igreja de S. Roque, da autoria de
Francisco Venegas, um homem do maneirismo, e o da Igreja de Nossa
Senhora dos Prazeres, em Beja, da autoria de António de Oliveira Bernardes.
A novidade de Bacharelli reside, pois, na introdução de
elementos arquitectónicos na pintura dos tectos, uma habilidade que atingira
grande perfeição em Florença nas últimas décadas de seiscentos e de que este
pintor foi o divulgador em Lisboa.
Uma curiosidade interessante para mim, torriense: como
refere V. Serrão (Op.cit.) é atribuída a V. Baccherelli a pintura retabulística
da Igreja do Mosteiro do Varatojo, (aldeia do Varatojo, a cerca de 3km de T.
Vedras), representando Nossa Senhora entregando o Menino Jesus a Santo
António.
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