Uma das igrejas mais valiosas de Torres Vedras é a da
Misericórdia, objecto de restauros recentes que lhe devolveram o brilho.
Construída entre 1681 e 1710, tem marcas do séc. XVII - uso expressivo dos
mármores, por exemplo - e do séc. XVIII - os silhares de azulejos azuis e a
talha joanina nos altares.
O que acho muito curioso neste templo é a temática profana
dos painéis de azulejo. Nada de vidas de santos ou de cenas da Bíblia, antes
cenas da vida quotidiana, paisagens, nobres passeando, lagos com barcos,
pastores. Vida bucólica, em suma.
Jogando mais uma vez com o conceito de património integrado,
esta temática parece, obviamente, desintegrada do contexto. Sempre que entro
naquele espaço, interrogo-me: porquê este desajustamento?
Só encontro duas explicações:
1- Os painéis não eram destinados àquele espaço, foram
trazidos de outro lado, por oferta de alguém, por ruína do espaço
original, ou outro motivo qualquer.
2 - Sendo uma Igreja anexa ao Hospital do Espírito Santos
que ali funcionou até quase ao final do séc. XIX, aquela temática sugeria
formas saudáveis de vida, era um lenitivo para os doentes.
É um enigma que talvez tenha explicação no Arquivo da
Misericórdia, onde se guardam centenas de livros de registos diversos mas onde,
até agora, os investigadores não encontraram dados concretos sobre a construção
do templo.
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