quarta-feira, 5 de março de 2014

"ENSAIO SOBRE A ESSÊNCIA DO ENSAIO" - Sílvio Lima



Livro publicado em 1944 - há 70 anos! - mantém a aura que fez dele uma obra de referência e ainda actual. Nunca, como hoje, se escreveram tantos textos ensaísticos, seja em livro, seja em artigos, sobretudo no mundo universitário. Sílvio Lima (1) tem um estilo de escrita límpido, rigoroso, fluente, ao serviço de um pensamento muito estruturado. 
O ponto de partida é a questão: «Que é o ensaio? Um género literário - como o são a epopeia, a tragédia, a écloga, a elegia, o soneto, a comédia - ou uma atitude mental, de determinadas características e tendências?»
A sua análise vai centrar-se nos ENSAIOS, de Montaigne, obra de 1580,  o primeiro ensaio dos tempos modernos, a afirmação do pensamento individualizado, liberto, enfim, das peias medievais pela grande revolução renascentista brilhantemente descrita no primeiro capítulo.

E é no segundo capítulo que encontramos a primeira caracterização do texto ensaístico:

«Os Ensaios não constituem (embora à primeira vista o pareçam) uma glosa, ou comentário; são a marcha evolutiva e intérmina de um pensamento que acorda, se desentorpece, estende «as pernas e os braços» e se projecta para a frente, para o espaço vazio, num arranco de autonomia.
Assentemos desde já neste ponto: os «Ensaios » são a rotunda negação do autoritarismo; são a expressão literária de uma atitude mental: a atitude critica. Daqui se colhe já o seguinte: sempre que se repudia a sujeição (a '«ontrainte«), e se põe em exercido a razão judicatória, brota o ensaio, ou o ensaísmo, ou o espirito ensaístico.
Na concepção do ensaio estão, pois implícitas três ideias básicas:
a)      O auto-exercício das faculdades.
b)      A liberdade pessoal
c)      O esforço constante para pensar original.»

(1) Sílvio Lima:  (1904 — 1993)

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