OS NOSSO AUTORES OITOCENTISTAS E O PATRIMÓNIO CULTURAL
por J. Moedas Duarte - Domingo, 3 Novembro 2013, 01:16
DA CRÍTICA FEROZ À PROPOSTA CONSTRUTIVA
Sobre Garrett e Herculano sublinho que
poucos como eles contribuíram tanto para a derrota definitiva do Antigo Regime
Absolutista. Combateram de armas na mão, sofreram o exílio, arriscaram tudo.
Mas ninguém, como eles, criticou tanto o novo Regime Liberal. Não por ser
liberal mas por não ter sabido incorporar a genuína tradição da cultura popular
e não ter recuperado as instituições medievais que poderiam garantir a descentralização
política – nomeadamente o municipalismo. Daí a crítica feroz aos “barões” (A.
Garrett, Viagens na minha terra, cap. XIII) ou aos “netos de Átila”(A.
Herculano, “ Monumentos Pátrios”, Opúsculos, vol. II)
Contudo, não se ficaram pela crítica. Garrett colige o
Romanceiro, - recolha de narrativas e versos da tradição popular – e propõe a
renovação do teatro escrevendo peças em que exalta as virtudes do amor pátrio,
da independência e da liberdade. Herculano, ligado à Academia Portuguesa de História,
percorre o Centro e Norte do país e salva milhares de documentos, dispersos e
mal conservados nos arquivos de conventos, Sés e cartórios eclesiásticos,
trá-los para a Torre do Tombo e empreende a sua publicação na obra Portugaliae Monumenta Histórica. (cf. Maria Helena da Cruz Coelho, “Alexandre Herculano: a
história, os documentos e os arquivos no século XIX”, Revista Portuguesa de
História – t. XLII (2011) – pp. 61-84 [ consultado em 03-11-2013], disponível
emhttp://www.uc.pt/chsc/recursos/mhcc/mhcc_rph42.pdf )
Em acções concretas, estes homens defenderam perante os seus
contemporâneos e os vindouros um programa de educação do povo, num «apelo às origens, buscando a “alma nacional”
nos costumes, na cultura popular, nos monumentos, na história» (Maria Helena da
C. Coelho, idem). No seu elevado sentido cívico, foram críticos, sim; mas
agiram para a construção prática da nova sociedade em que acreditavam,
defendendo e valorizando o seu património cultural.
Saudações a todos
J Moedas Duarte
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