Enquanto vou lendo e reflectindo
sobre o conceito de património integrado, sou assaltado pela ideia do seu contrário:
património desintegrado.
Penso, por exemplo, no ex-libris
de Torres Vedras, o Chafariz dos Canos, recentemente restaurado num belo
trabalho da Nova Conservação.
Quem olhe hoje para aquele
monumento tem a desagradável sensação de ver uma múmia: por mais bem conservada
que esteja, ela tem em si uma aura de morte.
Chafariz dos Canos, Torres Vedras, anos 20 do séc. XX
Aquele chafariz era um lugar de
encontros, de quem passava e matava a sede... e ficava à conversa... Lugar de
almocreves com seus animais, de caminheiros que vinham de longe, de peregrinos
a caminho de Santiago, de aguadeiros que vendiam água ao domicílio...
O que resta de tudo isso é uma
estrutura gótica encimada por um acrescento quinhentista, completamente
desintegrada do sítio em que foi construída e da necessidade para que foi
concebida.
Chafariz dos Canos, 2012, depois do recente restauro
Dir-se-á que não podia deixar de
ser assim, os tempos mudaram, etc. Só em parte concordo. Porque o que falta ali
é uma leitura que dê sentido àquela construção. Para isso há ideias mas pouca
vontade de as pôr em prática. Fez-se agora uma placa explicativa, finalmente,
mas continuo a achar que é pouco.
Entretanto os passeantes param,
tiram fotografias, dizem que é muito giro e seguem, indiferentes. Porque o que
ali está é um bom exemplo de património desintegrado.
NOTA: bem sei que esta é uma boutade que joga apenas com o antónimo de
sentido da palavra integrado. Peço que me relevem a brincadeira que, no
entanto, se refere a uma questão que considero muito séria.
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